segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

A História de Alexandre Vannucchi Leme

Em 1973, Alexandre Vannucchi Leme tinha 22 anos e cursava o quarto ano de Geologia na USP. Ótimo aluno, foi o primeiro colocado no vestibular, participava do movimento estudantil e militava no grupo clandestino Ação Libertadora Nacional (ALN). Na manhã de 16 de março, é preso por agentes do II Exército, pertencentes ao Destacamento de Operações de Informações do Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-CODI).

Levado ao DOI-CODI, é torturado durante dois dias até não resistir e morrer. Preocupados com a repercussão do assassinato sob tortura, a polícia política declara inicialmente aos jornais que se tratou de um suicídio, alegando que ele teria se matado com uma lâmina de barbear. Frente à pressão pública e à inconsistência da alegação inicial, forja-se um acidente por atropelamento. Nota pública do governo afirma que ele teria sido atropelado por caminhão ao tentar fugir. Na verdade, dois dias após sua morte ter se tornado pública, é revelado aos seus pais que seu corpo foi sepultado como indigente no Cemitério de Perus, na capital paulista, em cova rasa e comum. Seu corpo estava coberto com cal para que as marcas das torturas não fossem percebidas.

A morte de Alexandre, apelidado “Minhoca” pelos colegas, tem repercussão imediata. Outros estudantes também haviam sido presos e era preciso tomar alguma atitude. O Conselho de Centros Acadêmicos declara luto na USP e os alunos pressionam por uma intervenção do então reitor Miguel Reale que, num ofício à Secretaria de Segurança Pública do Estado, solicita informações sobre a morte de Alexandre “aos órgãos competentes”. A resposta, porém, contem as mesmas informações já divulgadas pelos jornais: atropelamento.

Surge a idéia de convidar dom Paulo Evaristo Arns, arcebispo de São Paulo, para realizar uma missa em memória do colega assassinado. Entidades da sociedade civil, que até então preferiam fechar os olhos, começam a se levantar contra a tortura. Reunindo milhares de pessoas, o ato após a missa transforma-se na primeira grande manifestação pública de oposição à Ditadura desde as manifestações de 1968.

A revolta contra o assassinato do colega e outras 44 prisões de alunos da USP faz ressurgir o movimento estudantil. Em um dos momentos mais críticos da ditadura, em condições totalmente hostis, Gilberto Gil é chamado para denunciar as prisões em curso. Num claro gesto de desobediência civil, durante o show na Escola Politécnica, o cantor levanta assuntos delicados: política, movimento estudantil, arte engajada versus arte pura, o imperialismo americano. O show que deveria ser de 30 minutos dura três horas.

No campus da USP, nas salas de aula, nos centros acadêmicos, os estudantes se mobilizam.Depois do silêncio imposto pelo AI-5, em 1968, os estudantes voltam a se reagrupar e, no dia 26 de março de 1976, criam, em assembléia, o DCE-Livre da USP, agora reconstituído e batizado com o nome de Alexandre Vannucchi Leme.


Abaixo, Você pode assistir às seis partes do documentário Porque Lutamos! Resistência à Ditadura Militar, que mostra um pouco desta hisória.




Um comentário:

  1. Excelente! Ainda não conhecia esse documentário.Muito obrigado por compartilhar!

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